Uma pessoa vai comer fora poucas vezes e quando vai é com cada desilusão.
Quando cheguei ao burgo disseram-me para nunca trabalhar para portugueses, além de pagarem mal, têm a mania que são mais que os outros. Não me lembro como conheci a Té, nem como foi que fui trabalhar para casa dela. Mas desde o primeiro dia gostei deles, ouve ali um feeling qualquer que passou do patroa/empregada para uma relação de amizade. Quando a Té decidiu casar e ir morar para casa do marido, resolvi que não ia trabalhar mais para ela, a casa era longe e eu tinha e tenho como decisão, trabalhar na vila onde moro. Perder muito tempo em transportes públicos diariamente, é coisa fora dos meus planos desde o primeiro que pisei este país e assentei arraiais na vila do Luxemburgo. Mas continuámos amigas e volta e meia combinávamos e passavámos o fim-de-semana juntas num parque de campismo no norte, onde ela tinha um bungalow arrendado ao ano. O mais novo dela foi estudar para Lisboa, o marido reformou-se no ano antes, e a Té decidiu que era hora de regressar a Portugal. A vida dela agora passa poucas vezes pelo Luxemburgo, mas de vez em quando tem de cá vir em trabalho, e quando nos permite a ambas tomamos um café.
Hoje permitiu-nos ir almoçar e ver fotos do neto, do filho mais velho, que já vai fazer 5 anos e saber novidades do mais novo que no ano passado foi trabalhar para os Estados Unidos. Também ela ficou contente de saber novidades dos meus.
Quanto ao almoço... o que me calhou porque foi o que pedi.
O bacalhau estava insosso e esteve pouco tempo na brasa, a posta era alta e no meio estava cru. A pessoa que deu o murro nas batatas fê-lo com uma agressidade excessiva. As migas ... na minha terra levam couve, feijão-frade e broa, salteadas em azeite e alho. Couve, feijão-frade e creio que era bacon, de tão esturricado que estava dificultou-me a investigação. Deixei no prato. Não só as migas mas metade do bacalhau. Sobremesa nem ousei pedir. A meia jarra de vinho vinha surrada, mal encheu os dois copos. A espetada da Té tinha bom aspecto, cheirava bem e ela disse que estava muito boa. A carne era tenrinha e suculenta. O arroz de feijão malandrinho, ótimo para ir molhando o pão enquanto o ia comendo.
Se a vida é feita de escolhas, hoje a escolha que fiz não foi a acertada.