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Mas para que raio quero eu um blog?

Um blog sem pernas para andar, com uma dona sem vontade de escrever.

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Mas para que raio quero eu um blog?

24
Out23

Também me acontece.

Carla

Todos nós, sem excepção, temos momentos lerdos. Uns mais que outros, mas ninguém escapa àqueles pedacinhos de vida em que a lógica se desfaz e a inteligência nos escapa...

À porta do McDonald's sou abordada por um rapaz, que me pede um moedinha. Prontamente lhe digo que não. Sem hesitar, nem me deixar entrar,  pergunta-me se lhe pago um hambúrguer. Respondo-lhe que sim e convido-o entrar comigo para fazer o pedido. 

Enquanto tateia na máquina conta-me a sua história ao mesmo tempo que me pergunta se pode escolher aquele hambúrguer, aquele tamanho de cola, etc... eu vou abanando  afirmativamente com a cabeça.

Frank. 32 anos. Veio da Alemanha.  Toxicodependente. Na rua desde os 20 anos. Lá ele sabe o motivo, que acontecimento o levou a morar na rua ou a entregar-se a um vício, em que esquina da vida se perdeu (ou não). Isto da vida, ou de viver é uma montanha russa, um dia em cima, outro em baixo. Hoje sabemos que estamos bem, amanhã .... não julgo ninguém, mas não dou dinheiro, sei bem o destino que lhe daria. Mas quando me dizem que têm fome, raramente penso duas vezes.

Foi maneirinho na escolha e o total da conta era 12€ e 95 cêntimos, no momento do pagamento disse-lhe que pagava no balcão. Pusemos-nos na fila e quando me viu a tirar 15€ da carteira, amarrotou o papel da encomenda e pediu-me o dinheiro, dizendo que se eu não me importava de lhe pagar a refeição, também não me importaria de lhe dar o dinheiro, pois esse fazia-lhe mais falta do que a comida. Passava o dia e dormia na rua, e  esse dinheiro o ajudaria a pagar a noite na pensão. De seguida, vai ao bolso e retira uma mão cheia de moedas, como a mostrar que assim, teria o montante suficiente para a tal noite na pensão... não fui na cantiga, até porque o local onde podem ir dormir é de graça, têm é de entrar até às 22h. Mantive o que lhe tinha dito no início, encolheu os ombros, paguei o hambúrguer, entreguei-lhe o ticket com o pedido e o número, dei-lhe o troco e saí.

Meia dúzia de passos mais acima, lembrei-me porque tinha ido ao McDonald's, com tudo isto vim embora e não comprei o meu almoço. Desci a rua e quando ia a entrar de novo no McDonald's, o moço estava à porta e sem olhar para mim,(talvez nem nunca tenha olhado), não percebeu que era a pessoa que tinha acabado de lhe pagar o almoço e tentou vender-me o ticket.

A lata deste caraças! (não foi bem caraças que pensei, foi mais a outra palavra que também começa por CA..., mas não vou escrever aqui, senão ainda me chamam malcriadona). Era obvio que o dinheiro lhe fazia mais falta, assim como era lógico que era isso que iria fazer! 

Tive o meu momento lerdo e de hoje em diante...

Note to self como diriam os ingleses:

* não volto a entregar o ticket pago a ninguém, espero que me dêem a comida e entrego.

 

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