Hoje é dia do pai
Ninguém nasce pai...
Quis a vida, que tivesses um pai que não quis ser pai e te tenha deixado à mercê da própria sorte com 2 anos, depois da tua mãe falecer. Tiveste o fortúnio de ter 1 irmã que te amparou e criou. Mas o menino tranquilo, pacato e sorridente que cresceu na Praia da Victória, voltou um homem muito diferente de Ultramar. A ilha, o silêncio da ilha incomodou-te. Depressa regressaste ao continente. Assim como ninguém te ensinou a ser pai, também ninguém te preparou para a guerra. E ninguém te curou do mal. Os pesadelos assombravam-te as noites e encontraste no álcool a solução, para calar os gritos que te ecooavam na cabeça. Nunca falaste do terror que viveste em Angola, assim como nunca falaste da dor de perder um filho. Fechaste-te em silêncio para fazer o luto, mas quando de lá saiste, saíste um pai completamente diferente. Talvez a dor te tenha transformado. Nunca mais bebeste. Voltaste a nós.
O pouco tempo que tinhas passou a ser vivido connosco. Presente. Pai. Amigo. Aprendeste a falar de sentimentos e demonstrá-los. E voltaste a sorrir.
Ninguém nasce pai, torna-se pai.
Pai... o meu amor maior. Que nos bons e maus momentos estamos lado a lado, mesmo com uma distância física de 2000 km.
Hoje queria dar-te um abraço daqueles bem fortes, ficamos pela video-chamada, mas já falta pouco.
Obrigada pai por seres como és.
Eu não seria a filha, mãe e mulher que sou se tu não fosses o pai que és.