Apontamentos da vida no autocarro
Às vezes entretenho-me a olhar a vida quando vou sentada no autocarro. O 23 vai lotado, coisa pouco habitual num autocarro que tem como rota a parte velha da cidade. O único lugar sentado é à frente, de costas para o motorista, o que me dá uma visão global de todas as pessoas que comigo partilham o mesmo transporte
Aqui deixo alguns desses apontamentos:
O condutor do autocarro tinha já fechado as porta e arrancado quando a senhora o abordou, parou no semáforo que estava vermelho, abriu a porta e deixou-a sair. Ela seguiu na direção oposta à do autocarro. Deve querer apanhar o 29 e devia ter saído na paragem onde eu entrei.
Para que conste: vou no autocarro conduzido pelo motorista mais simpático do Luxemburgo.
O menino com o equipamento de futebol vestido e as chuteiras presas à mochila, vai apreensivo. Assim q entrou ficou parado no meio do autocarro, perto da porta por onde entrou, de olhos fixos na vidro da frente e o dedinho perto do botão que sinaliza ao motorista que queremos sair. Estreou-se à pouco tempo nestas andanças de apanhar o transporte para a escola sozinho, a mãe não o informou ou ele esqueceu quantas paragens são até ao destino e assim que o autocarro segue ele toca no botão para sair. O motorista topou e disse-lhe que o avisava quando fosse a certa, ele sorriu, mas ainda vai inquieto.
Na rue de Tréves o trânsito só é permitido a autocarros. Como a estrada é muito estreita aquele troço é controlado por semáforos. Mas em calhando dois autocarros se cruzarem onde a estrada alarga um bocado, o autocarro que desce encosta-se bem à direita e dá prioridade ao autocarro que sobe. E assim aconteceu, outro aguadava a nossa passagem, mas o motorista que conduzia o "meu" também parou, saiu e foi abraçar a senhora sentada ao volante do outro veículo. Entrou logo de seguida, pediu desculpa e disse que era a mãe. Mãe é mãe e merece ser abraçada em qualquer oportunidade.
O casal sentado à minha frente, colegas de trabalho, prossegue a viagem a falar do mesmo assunto, trabalho. Os quatro homens sentados no banco do outro lado do corredor, debatem um assunto qualquer com bastante entusiasmo. A geração cabisbaixa, continua de cabeça baixa, de olhos postos no visor do telemóvel, onde a vida tem mais graça.
O motorista prometeu e cumpriu, avisou o menino que era aquela a paragem dele. Um grande número de pessoas saiu uma paragem depois. Os restantes na seguinte. No autocarro fiquei eu e outra senhora sentada ao fundo. Dois homens entraram nessa paragem, ficaram em pé no lugar reservado a carrinhos de bebé, cadeiras de rodas e bicicletas, a conversa vinha animada da rua, só lhe apanhei "acariciei-lhe o cabelo, massagei-lhe as costas e levei-a para minha casa "... detesto quando tenho de sair do autocarro e deixo conversas a meio!
Preparem-se que daqui a umas horas estarei de novo no autocarro.